No dia 10 de setembro estava de folga do trabalho e fui a um hospital
do SUS, Sistema Único de Saúde, acompanhar um parente. Essa unidade, localizada
na Rua Tamandaré, zona sul da cidade de São Paulo, atende diversas
especialidades, no nosso caso era um exame oftalmológico, preventivo de
catarata. Bom, para começar, esse meu parente aguardava essa consulta desde o
mês de março deste ano, portanto, seis meses. Um absurdo!
Chegamos às 7:45 da manhã, a consulta estava marcada para às 8:00 e
tinha uma fila gigantesca. Nossa senha era a de número 833 e o painel
registrava o número 765. Logo pensei: hoje o dia vai ser longo e difícil. Uma
hora depois nossa senha aparece no painel, fomos atendidos e encaminhados ao 4º
andar. Outra fila nos aguardava, desta vez para preencher um questionário. O
atendente era estúpido, tinha a cara fechada, cheio de marra, parecia não
gostar do trabalho. Ele gritava com os idosos que estavam desacompanhados e nem
olhava para o rosto deles.
Sentamos e aguardamos a consulta. O andar começou a encher e eu me
levantei para dar lugar a um senhor. Já eram 10 da manhã e não havia chegado
nenhum médico. A unidade estava lotada, a maioria era de idosos com mais de 60
anos, muitos obesos, outros com suas bengalas e alguns escorados nas paredes
pois já não tinha mais lugares para sentar. Havia dois aparelhos de TV ligados,
um no programa Bem Estar e outro no Jornal Fala Brasil, mas ambos
sem som e sem closed caption. Um tédio.
Fiquei em pé no corredor, estava lendo um livro quando fui abordado por
uma senhora. Ela me perguntou:
- Moço, você pode ficar lendo aqui?
Achei a
pergunta estranha e respondi:
- Acho que não
tem problema, estou acompanhando um parente.
Ela me pediu desculpas pois achou que eu fosse o segurança do local.
Não foi a primeira vez que isso aconteceu comigo. Dessa vez até que achei
engraçado.
Enfim, os médicos começaram a chegar, em grupos. Até parecia que
estavam juntos. Todos sorridentes, bem vestidos e alguns tomando achocolatado,
um comportamento inadequado porque há uma placa no local informando que é
proibido comer e beber. Eu, se fosse um
deles, não agiria dessa forma.
O atendimento começou por volta de 11 da manhã e saímos de lá, mais ou
menos, meio-dia e meia. Foram quatro horas e meia de espera.
Uma pergunta tornou-se inevitável, se os médicos só chegam às 10 horas,
por quê marcam para às 8 da manhã? Que falta de respeito com os nossos idosos.
Alguns podem até achar bobagem, mas não é. Se para mim, que não tenho nenhum
problema, estava ruim, imagina para eles que, além da catarata, sofrem também
com outros problemas.
Gostaria muito de ver um desses médicos fazendo o que o oficial do
texto “Na Colonia Penal” de Franz Kafka, faz.
Um dia desses, estava assistindo a um programa de TV, era um debate
sobre as eleições, alguns candidatos falando um bocado de asneiras, outro
prometendo coisas impossíveis, como por exemplo; passagem de ônibus gratuita,
outro falando que vai baixar o valor da passagem de ônibus para R$ 1,00 e que o
caminho é estatizar tudo. Um bate-papo sem propósito. Mas, em meio a isso deram
a palavra a uma senhora e ela perguntou:
- Eu gostaria de saber dos senhores o que vocês fariam se dependessem
do SUS para uma internação ou para realizar exames, será que vocês sairiam
vivos de lá?
Sairiam, porque, ao contrário do oficial, não acreditam tanto assim no
que fazem a ponto de morrerem por isso.
Ah, e quanto ao exame de catarata do meu parente, deu negativo.
Referência:
Kafka, Franz
Na Colônia Penal / Franz kafka